quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Despertando a demanda

É impressionante como tem empresas que conseguem despertar nas pessoas a necessidade de adquirir um produto (e torná-lo essencial em suas vidas) que até então ninguém nem sabia que existia.
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Um exemplo que eu vejo é o mercado de sabonete íntimo para mulheres. De repente, de uns 2 anos pra cá, só aumenta o número de marcas nessa categoria. Lucretin, Vagisil, Dermacyd, Intimus e por aí vai. E não fica só no sabonete não. Já tem lenços umedecidos também, pra aumentar ainda mais a família e proporcionar "mais praticidade à mulher", ou seja, mais e mais produtos que, na verdade, são questionávei.
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Quando digo que estes produtos são questionáveis eu falo o seguinte (vale uma reflexão): tais sabonetes surgiram (no comércio popular, disponível em supermercados e similares) há pouco tempo, pois até então era vendido somente em farmácias e sob prescrição médica. Até então, toda "higiene íntima" era feita com o sabonete comum (creio eu, na minha santa ingenuidade, pelo menos). E o quê que aconteceu? O sabonete comum deixou de funcionar? O resultado desses sabonetes íntimos é infinitamente superior que faz valer o investimento? .
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Sei não, mas acho que isso um discurso muito barato. Dá uma olhada nos comerciais que estão sendo veiculados divulgando estes produtos. O mesmo discurso, sempre focado no cuidado diário da mulher e na preservação da feminilidade. Na minha opinião, esse sabonete é bacana sim, claro, mas é preciso mais argumentos para vendê-lo, principalmente se quisermos trabalhar com todas as classes sociais (sim, claro, porque se cuidar dessa "área" é fundamental, então é "fundamental" para todas as mulheres, e todas devem ter condições de comprar o tal produto).
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E o pior é que a estratégia deu certo, muito certo. Tanto que, de novembro de 2006 a outubro de 2007, esse segmento faturou R$ 92 milhões, de acordo com o instituto de pesquisas IMS Health, e registrou um crescimento de 49,5% em relação ao mesmo período anterior. As empresas (Kimberly-Clark e Johnson & Johnson, por exemplo) já investem milhões em suas campanhas pubicitárias. (Li aqui)
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Ótimo para as agências e para meus colegas de trabalho. Péssimo para as mulheres, que além das mil e quinhentas coisas fundamentais para cuidar da beleza, da higiene e da saúde, acaba de arrumar mais uma. Já que, pelo que parece, quem não usa acaba sujando um pouco a imagem de boa moça. Literalmente. =)

6 comentários:

Anônimo disse...

Honey, me sinto super confortável pra opinar: antigamente, eu pelo menos só conhecia um sabonete, o Intimíssimo. E usar era sempre uma situação. Primeiro pq não era coisa de moça boa. Acho que o raciocínio era algo do tipo "se tá precisando de sabonete especial é pq boa coisa não fez!". E segundo porque não era algo facilmente encontrado. É por isso que eu penso que "despertar uma demanda" pode não necessariamente ser uma coisa pejorativa. Acho que o avanço destes produtos servem para ajudar a quebrar um tabu e a firmar um movimento feminino que já estava na superfície há muito tempo. Por isso que entendo e confesso que sou totalmente convencida por qualquer desses argumentos sobre intimidade consigo mesmo, feminilidade, etc. E acho que todo mundo vai ter espaço para usar-se disso até o tabu acabar. Daqui há um tempo, quem sabe a diferenciação vai ser da marca que rasgar o verbo primeiro e dizer na lata: mantenha a sua sempre limpa, vc nunca sabe quando vai usar! :D

Renato Ferreira disse...

Tá vendo o que é ter uma visão feminina sobre o produto e sobre a comunicação do mesmo?
Acabei de refletir e ver que minha visão, apesar de sincera, chega a ser um pouco machista.
Machista quando penso que os argumentos utilizados na campanha não tem apelo entre as mulheres - quando, na verdade, tem e muito.
Machista também quando penso que toda mulher tem o direito de cuidar "das partes" da maneira que bem entender e, se tem empresas e mais empresas oferecendo produtos com esta função, elas tem mais é que aproveitar.

Valew pela palavra feminina honey. bjs

Anônimo disse...

Obaaaa adoro estas discussões!! Pena q não é com um cigarro la embaixo, mas isso é outra historia. Bom, minha opinião é a seguinte: o mkt é, basicamente, criar e suprir desejos do consumidor. Alguém aí tinha celular há 20 anos atrás? Não, n tinha. E nem tinha a NECESSIDADE de ter. A necessidade de encontrar e ser encontrado. Com o sabonete íntimo, com os aromatizantes de ambientes, com papel-toalha, papel laminado...todos são evoluções da sociedade, do mkt, da ciência. Claro que o ambiente social interfere na aceitação de determinados produtos. Mas acredito que de uma forma geral a sociedade tem evoluído no sentido da defesa das liberdades individuais. E com isso, as pessoas se preocupam mais com suas próprias leis e acordos internos, sem se basear no que os outros pensam. E a partir daí, surgem inúmeras formas de se solucionar alguns problemas das pessoas. Mesmo que estes problemas nem tenham acontecido antes.

Renato Ferreira disse...

Bom, nisso eu não concordo não. O prodúto em discussão já existia sim, mas voltado para casos específicos.

Não vale comparar com a necessidade de ter um celular. Isso realmente era uma necessidade básica e fundamental para a própria evolução da humanidade, pois veio não só o celular mas também várias outras inovações tecnológicas.

O que eu critico é a forma como eles passaram a tratar o produto. Todo mundo sabe a sua função. E eu entendo que com essa forma mais "leve" de encará-lo isso tenha trazido uma certa liberdade para a mulher e diminuído a vergonha de assumir que usa este tipo de produto. Isso é ótimo.

Mas o que eu não acho legal é eles argumentarem que usar este bendito sabonete é essencial, primordial e nenhuma mulher pode viver sem.

O que importa é a liberdade de escolha, saber que, se você quiser ter um cuidado ainda mais especial com você, existe produtos que te atendem nesta questão.

Agora, virar pra geral e falar (sugerir, pra ser mais ameno com as palavras) que quem não usa não se cuida e não se preocupa com o parceiro (tal qual o Lucretin faz)isso eu acho um absurdo sim.

Anônimo disse...

Sim. Tudo é uma questão de criar necessidades.Os produtos são reflexos da cultura e dos valores em voga na sociedade. Afinal, por que se paga mais caro por um alimento com um gosto duvidoso só por que está escrito light ou zero? Mas ninguém diz pra você comer pra não virar uma baleia. Tudo é dito com muitos eufemismos e as pessoas preferem assim. O objetivo é criar algo que todos tenham a necessidade sendo que não é muito bem assim. por fim será que essa demanda não vai passar para os homens também? afinal limpeza intima todos devem ter e no homem a falta dela causa até cancêr. Será que vai demorar muito para lançarem um sabonete para a outra parte da história?

Renato Ferreira disse...

Duvido que isso aconteça.

Mais uma vez entra o machismo (apesar de que agora é uma constatação, creio eu), mas acho que nossa sociedade não está evoluída esse tanto não.

Sabonete íntimo pra homem? Never.

Vai encalhar nas prateleiras.

Imagina a divulgação desse produto?? Socorro. Eu não mereço assistir.... =)