terça-feira, 25 de agosto de 2009

Tempo, mano velho

25 de agosto, 22h36 de uma terça-feira chuvosa. Um dia super corrido, daqueles em que não dá tempo de tomar um café do jeito que você gosta e pior: daqueles em que o tempo que você tirou para você deixa de existir. Você, com pressa, nem percebe.

Chego em casa e começo a ler uma revista, a S/Nº. E nela li esse texto, que reproduzo na íntegra abaixo com os créditos ao autor e à própria revista. Serviu pra mim e tenho certeza que vai servir para você. Não pense que o texto é enorme e que vai tomar seu tempo. Apenas leia.

A velocidade é ok?

Nada é pra já. Tudo é pra ontem. A velocidade é irmã gêmea da rapidez, filha do tempo e prima do ritmo. Como vive agarrada na barra da calça do pai, não é de se estranhar o fato de que hoje a velocidade se tornou a filha predileta do devorador de dias.

Alguns acessórios contribuíram para essa predileção. Desde que o fax, o celular e a internet surgiram, tudo ficou mais veloz, certo? A própria velocidade se incumbiu e incumbiu seus familiares de ditar as novas regras: a rapidez, uma espécie de gêmea boa, ficou com a contagem de tempo de gente normal. Ali cabe uma certa folga, é meio subjetivo isso, mas a rapidez comporta o erro, o para-e-volta-para-consertar-seja-lá-o-que-for.

O ritmo, primo que não está nem aí com nada, só obedece ao que lhe é pedido. Aliás, ele prefere atuar na música. E a velocidade, dominatrix insaciável, ficou com o chicote na mão, estalando seus caprichos nas costas de quem está subjugado por ela. A velocidade é uma deusa contemporânea e todos devem adorá-la com o risco de ser impiedosamente castigados.

Velocidade, rapidez, ritmo. Esses três parentes formam hoje a santíssima trindade da produtividade. Em qualquer área. Em qualquer nível. No trabalho, você deve ser veloz. Bata na porta da irmã boa e peça um help. Ela vai ajudar. Se quiser que o primo ritmo atue, seja claro e pontue direito sua participação. Taí um bom caminho para uma boa produtividade no trabalho. Na família, quanto mais velozes os eventos e encontros familiares, melhor. Papos rápidos (olha a rapidez aí!) nas reuniõezinhas, na rua acenos distantes com passos apertados (opa, surgiu mais um parente, a pressa!) e timing perfeito na hora de ir embora pra casa.

Velocidade na família é dez. No amor... bem, no amor vale tudo. Menos ser veloz. Acho que o campo erótico-afetivo é o único lugar onde os três mosqueteiros do destino se unem, traçam um plano comum e se irmanam com um único objetivo: esquecer que no amor não se exige produtividade e sim felicidade. O único amor que comporta velocidade não é amor: é creu. E o creu, só na velocidade cinco.

Aloísio de Abreu - ator, autor, roteirista e diretor. Revista S/Nº - Velocidade

E aí, tem quanto tempo que você não tira um tempo para você?

Nenhum comentário: